Queria Poder Dar-te

Queria poder dar-te

Pelo menos a metade

Dessas vagas cavidades que me enchem.

Dá-me água jorrada da fundura

Que hoje tenho este diacho de secura

Escavada dentre ossos.

Não sei o que as palavras querem

Se são poço

Fosso

Ou vale

Mas eu quero ser molhado

E tragado eternamente

Pelo verso que suborna e me tortura.

Quantas bocas tenho ainda

Para serem invadidas

Pela língua dos amores

Atravessando meus lábios e meus dedos...

Quantos bares tenho ainda

Para serem degustados

Como vinhos e sabores derivados

Destas flores vaidosas que contenho...

Queria poder date-me por um tempo

Uma lasca curta e esguia

Deste enorme deus pungente.

Dá-me, a outra parte diferente

Que a outra parte

De inocência desviada

Já possuo...

Felipe Barreto