AGNOTOLOGIA E NEGAÇÃO DA CIÊNCIA
Por: José Mateus Costa
O
termo agnotologia foi cunhado por Robert Proctor professor da Universidade de
Stanford, no intuito de designar o estudo da negação com vista no atraso ou
produzir dúvidas em relação ao conhecimento cientifico. Etimologicamente a
palavra vem do grego “agnosis” que
quer dizer “não ao conhecimento”.
"historiadores
e filósofos da ciência tendem a tratar a ignorância como uma constante expansão
vácuo no qual o conhecimento é sugado - ou mesmo, como Johannes Kepler disse uma
vez, como a mãe que deve morrer para o nascimento da ciência .
A ignorância, porém, é mais complexa do que isso. Possui uma geografia política
distinta e mutável que é frequentemente um excelente indicador da política do
conhecimento. Precisamos de uma agnotologia política para complementar nossas
epistemologias políticas " (PROCTOR, 1995. pag, 8).
A
agnotologia tem como proposito “promover o estudo da ignorância desenvolvendo
ferramentas para compreender como e porque várias formas de conhecimento não
“emergiram” ou desapareceram, ou foram retardadas ou negligenciadas por longo
tempo para melhor ou para pior, em vários pontos”.
Em
seu artigo Leite (2014), afirma que o conhecimento cientifico muitas vezes é
questionado pelos poderes políticos e econômicos, a ciência tem o papel de
fornecer dados legítimos a sociedade, aqueles que são questionados por esse
discurso tem tendem a reagir contrapondo.
Para
isso são comumente utilizados estudos pseudocientíficos de baixo rigor
metodológico, não falseáveis ou até mesmo com dados controversos no intuito de
manter algo que já é consenso na comunidade cientifica ainda em pauta nas
discussões acadêmicas. Estas medidas têm por objetivo atrasar ou legitimar a
falta de medidas tomadas pelos governos ou empresas.
Este
discurso pseudocientífico que causa confusão na cabeça das pessoas e por vezes
levado a estado de ignorância não é fruto do acaso, ‘mas resultado de uma
intervenção política e cultural que tem por objetivo desmerecer a informação e
a compreensão da população sobre o tema”.
Neste
contexto podemos citar inúmeras discursões que foram estendidas por muito tempo
quando já existia com consenso cientifico, como por exemplo: o discursos de que
tabaco causaria câncer de pulmão. As primeiras evidencias de que o fumo poderia
aumentar a incidência de câncer surgiu em 1950.
Em contrapartidas muitas indústrias de tabaco financiaram pesquisas para
contrapor as evidencias que vinham crescendo a cada ano.
O
discurso que contrapõe as mudanças climáticas também foi numerosamente atacado
(o que ainda ocorre hoje em dia). A negação pelas industrias e pelo governo de
que o aumento da temperatura era causado em grande parte pelas industrias,
levavam ao governo a não tomar medidas de amenizar os dados causados a
natureza.
Discursos
pseudocientíficos são rotineiramente levados a discursão, o uso de terapias
comprovadamente não funcionais, discussões sobre a eficácia da vacina,
movimentos terraplanistas, levam ao atraso do desenvolvimento cientifico, pois
põe este conhecimento em questionamento por parte das pessoas menos
desfavorecidas de educação.
No
Brasil há uma resistência de 73% das pessoas, estas afirmam desconfiar da
ciência e 23% dizem que a ciência não contribui em nada para o desenvolvimento
econômico e social do pais. Estes dados são comuns em países onde a
desigualdade social é muito grande.
A
pesquisa feita pelo Centro de Gestão e Estudos de Estratégia (CGEE), denominado
de “percepção publica da C&T no Brasil”, é realizada desde 2006. Em 2019,
apenas 31% das pessoas afirmaram que a ciência e tecnologia trazem benéficos a
humanidade, nota-se uma queda considerável referente ao ano de 2015, que ao
fazer a mesma pergunta obteve-se um dado de 54%.
A
visão de que o cientista traz coisas boas para a sociedade também vem
diminuindo consideravelmente, de 55,5% em 2010 caindo para 52% em 2015, e na
pesquisa realizada em 2019 apenas 41% das pessoas. A pesquisa da CGEE também
cita o fato de 73% da população afirmar que antibióticos servem para matar
vírus. E Apenas 19% dos brasileiros acham que a C&T trazem benéficos a
sociedade.
Para
leite (2014), as controvérsias que retardam o consenso cientifico ou seus
desdobramentos, não tem intuito de estabelecer um debate crítico e sistemático,
estas negações são maneiras de afirmar a pseudociência travestida de ciência,
muitas vezes no intuito de camuflar as necessidades de estabelecimento de
políticas públicas eficazes, ou livrar determinados grupos da sociedade da
responsabilidade sobre os efeitos a natureza e a saúde das pessoas.
REFERENCIAS
Andrade, Rodrigo de Oliveira. Crise de confiança suscita debate
mundial sobre como enfrentar ataques ao conhecimento científico. Pesquisa FAPESP. Disponível em:
https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2019/10/016_CAPA-Ceticismo_284.pdf.
Acesso em: 24 mai. 2020.
Brasil.
Percepção pública da C&T no Brasil –
2015. 2015. Disponível em: https://www.cgee.org.br/documents/10182/734063/percepcao_web.pdf
Acesso em: 24 mai. 2020.
Brasil.
Percepção pública da C&T no Brasil –
2019. 2019. Disponível em: https://www.cgee.org.br/documents/10195/734063/CGEE_resumoexecutivo_Percepcao_pub_CT.pdf.
Acesso em: 24 mai. 2020.
Leite,
José Correa. Controvérsias
cientificas ou negação ciência? Agnotologia e a ciência do clima. Scientiæ Zudia, V. 12 n. 1, p. 179-89, 2014.
Proctor,
Robert (1995). As guerras do câncer como a política molda o que sabemos e
o que não sabemos sobre o câncer . Nova York: Livros
Básicos. p. 8.
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