RESILIÊNCIA E A ENFERMAGEM

Por: José Mateus Acadêmico de enfermagem-UEMA.


A enfermagem é a profissão da área da saúde que tem maior contato com o paciente e com o ambiente onde está inserido, desta forma encontra-se constantemente em um clima de sofrimento que geralmente emerge neste contexto.
Um estudo realizado em 2005 com cerca de 100 profissionais da equipe de enfermagem demonstra que 100% dos participantes da pesquisa sofriam de algum nível de estresse. Dentre os sintomas mais abundantes encontrados temos: cansaço, tensão muscular, nervosismo, irritabilidade, dor lombar, ansiedade, tensão pré-menstrual, problemas de memória, depressão, entre outros.
Neste contexto temos o conceito de resiliência, este por sua vez é emprestado da física e engenharia aos profissionais da saúde. Originalmente refere-se a capacidade de um objeto de absorver energia sem sofrer deformações permanentes. Pressupõe que a resiliência de um material é a capacidade de não perder suas propriedades quando este sofre um impacto ou choque.
No assistência termo tem como base demonstrar as habilidades de superar as adversidades sem sofrer grandes danos. No entanto, não significa que o indivíduo sairá de determinada situação ileso, como demonstra os significados de invulnerabilidade e invencibilidade.
As relações que mantemos com o ambiente, nossas relações sociais, culturais e familiares estabelecem um importante meio para nos tornarmos cada dia mais resilientes. Contudo, é necessário observar que características biológicas como a genética e o gênero, estabelecem fatores determinantes ao nos referirmos a resiliência. 
Para que o sujeito seja considerado resiliente

é necessário que exista um equilíbrio, ou uma combinação entre os fatores de risco e de proteção. De acordo com as autoras, os fatores de proteção estão associados às condições do próprio indivíduo (autoestima positiva, temperamento fácil e maleável, ou seja, flexibilidade diante das adversidades), às condições familiares (ambiente familiar onde predominem coesão, estabilidade, flexibilidade, adaptabilidade, valores, crenças, etc.; e pais amorosos, competentes, interessados, com participação na vida escolar dos filhos, expectativas positivas em relação ao futuro dos filhos, elogiando seus esforços etc.) e às condições ambientais (comunicação aberta, limites definidos e realistas, tolerância aos conflitos, respeito, reconhecimento e aceitação, receptividade a novas ideias etc.) (BALANCIERI et al., 2010).

A enfermagem é uma profissão empata por natureza, embora muitos profissionais possam a exercer sem o uso desta ferramenta tão importante na saúde. É importante salientar que empatia não garante resiliência, porém oferece a direção.
No intuito de exemplificar com mais afinco a necessidade intrínseca de nos tornarmos mais resilientes, recorro a duas figuras importantes da enfermagem mundial e brasileira.
A primeira é Florence, durante o período que cuidou dos soldados na guerra enfrentou dois grandes obstáculos, a situação insalubre dos hospitais que levavam grande parte dos pacientes a óbito e o machismo que lhe impedia de tomar as decisões e fazer as mudanças necessárias. Os obstáculos foram muitos, mas com eles Florence conseguiu revolucionar a enfermagem, a forma de cuidar dos doentes e o modelo hospitalar vigente na época.
Brasileira, Ana Neri é símbolo da enfermagem nacional. No contexto da Guerra do Paraguai, viu-se com seus filhos e maridos envolvidos no conflito, com isso ela ofereceu-se para prestar cuidados aos soldados brasileiros, no intuito de acalentar seu coração de mãe aproximando-se da realidade vivida por seus familiares.
Sentimentos como a impotência, irritabilidade e estresse, distanciam os cuidadores da resiliência. Nos dias de hoje é necessário que os profissionais de enfermagem tomem por exemplo suas precursoras e tornem-se cada dia mais otimistas e confiantes, cientes de que podem mudar a realidade e o estado de saúde das pessoas.
Não se nasce resiliente (apesar das características biológicas envolvidas), este é um sentimento que deve ser exercitado pelo enfermeiro(a) desde a entrada no mercado de trabalho. É necessário que cuidar de se próprio para cuidar dos outros, a resiliência mostra-se um caminho seguro para garantir a saúde dos pacientes e manter-se saudável neste processo.

REFERENCIAS/DICAS DE LEITURAS

BELANCIER, Maria de Fátima et al., A RESILIÊNCIA EM TRABALHADORES DA ÁREA DA ENFERMAGEM. 2010. disponivel em: http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v27n2/a10v27n2.pdf. Acesso em: 11 abr 2020.

Belancieri, M. F. (2003). Estresse e repercussões psicossomáticas em trabalhadores da enfermagem de um hospital universitário. Dissertação de mestrado não-publicada, Universidade do Sagrado Coração. Bauru.

Belancieri, M. F. (2005). Enfermagem: estresse e repercussões psicossomáticas. Bauru: EDUSC.

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