A DESPEDIDA
Por: Francisco Pereira
Mais um dia se passava na vida de uma família que viveu muitos dias de
glória, festa, felicidade e que encontrava na situação que estavam vivendo, uma
fuga da realidade com o objetivo de amenizar um problema que não tinha solução.
Não era como escrever um texto argumentativo que se daria uma solução para uma
problemática carente de melhoria. Na vida real, as coisas são bem diferentes
dos filmes de animação. Família nem sempre é grande, com muitos integrantes. A
que será apresentada a seguir é diferente, porque eu vi e vou contar o que
aconteceu.
O menino morava com seu avô, juntos formavam uma família. Ninguém nunca
teve a curiosidade de procurar saber o porquê de só os dois. Bem no fundo todos
sabia que alguma tragédia havia acontecido, um passado que tentavam esquecer.
Este menino e seu avô eram muito unidos, um era a essência do outro. Mas como o
tempo não para de agir, um dia tudo muda, as pessoas vão envelhecendo. De longe
se via o decorrer do tempo refletir naquela casinha branca de varanda, um dia todos
envelhecem e não por escolha. Anos se passaram e o menino tornou-se homem,
trabalhava e estudava, sustentava a casa e cuidava de seu avô. Mas tinha algo
diferente em seu olhar, eu percebia, talvez fosse o peso das responsabilidades
em seus ombros, entendo que ser adulto não é algo fácil, é difícil. Eu pensava
nesta possibilidade, mas senti que era preocupação. Seu avô estava doente,
vivendo sob uso constante de medicamentos.
Um dia fui a porta da casa deles, mas percebi que não era hora de visita.
Deixei-os sozinhos como estavam e fui embora. Tinha uma janela que dava para
ver aquele senhor da cozinha. Parecia que tudo aquilo não o deixava com medo,
admiro pessoas corajosas, como ele. É muito cativante haver pessoas que mesmo
com tantas adversidades resolvem sorrir em vez de chorar. O senhorzinho ficava
o dia inteiro solitário, seu neto chegava apenas a noite e o deixava ainda mais
sorridente com seu retorno. No entanto, neste dia mudou a rotina. Quando o neto
chegou ele estava desacordado e o menino já crescido chamou a ambulância e
foram ao hospital. Chegando lá, não recebeu boas notícias, seu avô observando
sua expressão, disse: – Meu filho, está tudo bem. Não se preocupe. – Isso o
deixou conformado pelo instante. Voltaram para casa e dormiram. Porém, esta
cena ficava cada vez mais frequente naquela residência, ocorreu o mesmo
diversas vezes que se perdeu a conta.
Aquele senhor foi valente até o último instante. Até onde percebeu que
precisava aguentar para se despedir do neto que tanto amava. O rapaz que se
chamava Omar, nunca teve a coragem de abrir o resultado do exame de seu avô,
ele quis pensar nele da forma como era antes de qualquer doença. Fez tudo que
tinha para fazer. Eu não podia mais esperar e tive que levá-lo comigo. Omar,
sabia que era a hora e dessa vez eu fui à porta e entrei, não houve um diálogo,
e sim, um consenso, pois ele sabia que eu chegaria cedo ou tarde. Eu sou a
despedida, ele talvez não tenha me visto fisicamente, mas eu estava ao seu lado
naquele momento. Hoje, Omar tem filhos e uma grande família. Seu avô de vez em
quando me pede para vê-lo, observar sua felicidade. Durante os primeiros anos
foi bastante doloroso para o jovem viver sozinho, mas ele sabia e eu sei disso,
que tudo ficaria bem. A partida de alguém que se ama, dói na alma, deixa uma
cicatriz. Crescer é evoluir com todas as perdas.
Enfim, queria deixar um recado para você que está lendo este texto, não
viva sonhando com um futuro distante, viva no seu presente, divirta-se no seu
presente, conheça pessoas que façam seu momento presente único e inesquecível,
assim como fez Omar. Pois um dia desses, eu irei bater na sua porta e o levarei
comigo, não tenha medo e não se desespere. Eu sei bem quando devo chegar. Eu só
passo pela sua vida, não a construo, não a vivo, sou apenas uma partida de um
lugar para outro, tudo que fizer eu o deixarei contigo. Suas escolhas são
exclusivamente sua. Faça da vida uma boa experiência.
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