O MENINO SOLITÁRIO
Por: Francisco Pereira
O dia era longo, quase não passava. Como se cada segundo fosse uma
eternidade e aliás, era. Tão sozinho estava com minha insignificância enquanto
aguardava a noite chegar, da varanda, ouvia os suspiros do ar, a sorridente
beleza das flores e seu adorável perfume, mas o que fazia do dia algo menos
torduoso não era isso, pelo simples ar que respiro, só isso não bastava. Eu
precisava de algo mais. Os dias eram longos, as noites curtas e no conforto de
meu travesseiro, ou na aconchegante poltrona da sala pensava. Pensava no que
faltava, naquilo que completaria meu dia, faria dele melhor, e sinceramente, eu
não sabia. Até um dia em que algo mudou minha triste rotina, alegrou minhas
manhãs e deslumbrou minhas tardes, algo tão simples, quase que inútil imaginar
que a minha vida se alegraria com tão pouco, com pequenas coisas. A visita de
um beija-flor naquela manhã ensolarada mudou meus dias, o vazio se fechou. É
muita ambição esperar sempre muito quando precisamos de tão pouco, a falta que
a falta faz, talvez seja um dilema, um fato. Mas é evidentemente verdadeiro.
Minha solidão tinha começado a acabar. Depois dessa visita, vi que eu e
todo o mundo estava errado, somos errados. Eu nunca esperei que um pássaro
mudasse minha vida, estava muito ocupado pensando no que faltava que não
percebi que a felicidade visitava todos os longos dias meu quintal e tentava se
comunicar comigo. Dizendo: olhe para seu redor! Acredito que as pessoas do
mundo também estejam procurando algo a mais para suas vidas e assim como eu
demoram encontrar ou nem mesmo as encontram. Para um menino que vivia solitário
não sou a melhor pessoa para dar um conselho de como ser feliz, mas vejo que
posso ajudar em algo. Nossa felicidade só depende de nós, somos nós mesmos que
temos que procurá-la, para isso, devemos observar o nosso redor e buscar um
sorriso nas coisas simples da vida, como conversar com alguém, ajudar o
próximo, regar as plantas, ouvir música, caminhar por lugares que amamos, fazer
aquela comemoração com amigos, até rir do vento. São tantas coisas que podem
fazer do nosso dia algo feliz e que as vezes não damos valor. Eu passei muito
tempo reclamando da solidão que eu tinha, da ausência que sentia que quando
menos esperava sorri de novo, por causa de um pássaro. Ele todos os dias estava
ali bem próximo, alegre por estar vivo, por estar coletando o néctar. Quem sabe
aprendemos um pouco mais com a simplicidade dos animais que o que nos faz
felizes pode estar onde menos esperamos. Em alguém e não em uma coisa.
Eu reclamei um bom tempo pela solidão e hoje reclamo por ter deixado que
minha preocupação de ser feliz fosse pensar no que faltava e não viver pequenas
alegrias em torno de meu mundo.


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